Os atletas piauienses de judô se preparam para mais uma batalha. Neste final de semana, de 16 a 18 de abril, será disputado o Campeonato Brasileiro Regional de Judô, na cidade de São Luiz – MA. O Campeonato Regional é o primeiro passo para as competições nacionais e, segundo o técnico Abdias Queiroz Filho, serão enviados ao estado vizinho cerca de 100 competidores do Piauí.
Cinco estados brasileiros farão parte do Regional: Piauí, Ceará, Maranhão, Pará e Amapá. De acordo o técnico, todos os atletas de ponta do Piauí competirão, mas, alguns nomes se destacam pelos prêmios já conquistados, como por exemplo Francisco Medeiros Neto, judoca há 15 anos, hexacampeão regional, já vencedor do Campeonato Brasileiro e do Sulamericano e Stanley Torres, tri-campeão regional, campeão brasileiro em 2005 e já competidor do Pan-Americano deste ano. “Creio que 30 atletas têm grandes chances de voltar com a medalha de ouro. Porém, acredito que alguns outros irão nos surpreender”, anima-se o técnico. Por outro lado, a judoca mais conhecida do estado, Sarah Menezes, não lutará. “A Sarah já está em outro patamar, luta apenas em competições autorizadas pela CBJ – Confederação Brasileira de Judô”, explica Queiroz.
Tanto sucesso e expectativa no judô piauiense têm deixado o esporte sempre em destaque na mídia local e nacional, especialmente após a participação de Sarah Menezes nas Olimpíadas Mundiais realizadas na China em 2008. Para o técnico Queiroz, esse resultado se dá principalmente pelo nível dos professores. “Temos professores altamente capacitados, ex-atletas de nível médio para alto, que souberam passar muito bem tudo que aprenderam para os alunos. Hoje, esses alunos têm melhores resultados que nós tivemos. Nós sonhamos muito alto, como não atingimos tudo que queríamos, depositamos isso nos nossos alunos”, ressalta.
Outro ponto destacado pelo treinador é a organização da Federação Piauiense de Judô, que mesmo sem muitas condições financeiras, consegue enviar atletas para competições estado afora. Além disso, o apoio dos pais tem sido fundamental para a disciplina e responsabilidade dos alunos em relação ao esporte. “Boa parte dos pais acabam se apaixonando pelo judô também, o que incentiva os filhos a continuar”.
Dificuldades
Apesar de tudo que o judô piauiense já conseguiu como bons resultados, o esporte ainda enfrenta algumas dificuldades. Uma delas é a falta de um local em Teresina voltado para os treinamentos. “Aqui em Teresina temos poucas academias e nenhuma é voltada somente para o judô. Se não tivéssemos espaços como o da academia Eugênio Fortes, por exemplo, não sei como faria, mas seria complicado. Entretanto, há uma proposta da prefeitura para a criação de um espaço nosso, estamos esperando dar certo. Acredito que agora, com o Elmano no poder iremos conseguir, pois ele tem se mostrado interessado em nos ajudar”, frisa o técnico.
Além da falta de quadras para treinamento, podemos citar também como dificuldade a falta de incentivo financeiro aos atletas piauienses de judô. Em virtude disso, alguns deles acabam por desistir da luta para seguir rumos diferentes. “Muitos judocas piauienses já podem sonhar com as olimpíadas Rio 16. Treinam e tem talento para isso. O problema é que sonham, têm ótimos resultados até os 16 anos, mas aí já não temos estrutura para mantê-los aqui. Os grandes clubes do Brasil têm muito mais recursos. Lá eles ganham dinheiro para lutar, para treinar aqui não. Eles me pagam para poder treinar. Por conta disso, os pais acabam tirando do judô, pois preferem que eles trabalhem”.
Entretanto, a situação dos atletas tem mudado. Os governos estadual e federal passaram a distribuir a bolsa-atleta – forma de incentivo financeiro no valor de R$ 300,00 a R$ 1.500,00, dada aos atletas de melhores resultados, para que ele continuem treinando. “É um ótimo incentivo. A família passou a incentivá-los a lutar e isso os deixa mais tranqüilos, entretanto, ainda não é o suficiente. Precisamos de mais incentivos. Teresina precisa crescer no esporte como um todo”, afirma Queiroz.
Sarah Menezes
A piauiense Sarah Menezes atualmente é de longe a judoca mais famosa do estado. Sua última grande vitória foi nas competições deste mês do Pan-Americano de El Salvador, onde levou medalha de ouro, após vencer quatro lutas por ippon – golpe do judô considerado de alto nível. A atleta conseguiu nove das 229 medalhas conseguidas pelo país no ano de 2009.
Tanto destaque, ao mesmo tempo que ajuda o judô piauiense também tem seu lado negativo. Para Queiroz, o governo tem deixado de lado alguns atletas que teriam as mesmas condições de Sarah. “O estado só investiu na Sarah, não investe em outros atletas como está investindo nela. Dessa forma não surgirão outros. Esse é meu medo”.
Queiroz afirma que a ida da piauiense para as Olimpíadas da China em 2008 era esperada, entretanto, sabia-se desde o princípio da dificuldade que Sarah enfrentaria. “Não foi surpresa a Sarah participar das olimpíadas, mesmo sabendo que não teria tantas chances de medalha. Mas acredito que em 2012 ela será medalhistas, já em 2016, tem grandes chances de ouro”.
Pan-Americano na Argentina
Outra grande conquista do judô piauiense está em andamento desde as seletivas do Pan-Americano, realizadas em fevereiro deste ano, na cidade de Natal – RN. De lá, três piauienses conseguiram direito a disputar o campeonato na Argentina. São eles: Stanley Torres, João Batista Romeiro e Francinaldo Segundo.
Com esses três atletas, o Piauí tem a segunda maior equipe da competição. “Ganhei a seletiva e vou agora representar não só o meu estado, mas o Brasil, já que sou o único atleta da categoria sub 20, 66 kg do Brasil inteiro”, orgulha-se Stanley Torres.
Preconceito
Outra grande judoca de sucesso no estado é Josiane Fernandes. Com apenas 15 anos de idade e compondo a categoria ‘menos de 52 kg’, Josiane já é campeã brasileira de judô de 2009, vice-campeã do Campeonato Sul-Americano no Equador a também vai participar do Regional.
Entretanto, para a adolescente nem tudo são rosas. Por lutar judô desde os três anos de idade, a atleta diz ter enfrentado muitos preconceitos na pré-adolescência. “Quando eu era mais nova, sofria muito preconceito porque todos achavam que judô era coisa somente de meninos. Mas hoje já não tem tanto isso. Eu acho que consigo mostrar que não precisa ser homem para lutar judô”.
Assim como para Josiane, o preconceito é uma mancha na rotina de muitas atletas de esportes que, como o judô, são praticados principalmente por homens. A ex-judoca Isabel Lima, atualmente com 14 anos afirma que este foi um dos motivos que a fez desistir de lutar. “Eu gostava do judô, mas sempre era motivo de piada na escola. Diziam que eu tinha os ombros largos e parecia um homem. Eu tinha muita vergonha disso, e, apesar de ainda querer lutar algum dia, por enquanto prefiro esperar a poeira baixar”, explicou.
Histórico
Em 1971, por convite da Polícia Federal do Piauí, o treinador de judô Abdias Queiroz veio para o Piauí trazendo seus nove filhos. Desde então começou a surgir no estado o judô, um esporte até o momento pouco conhecido.
“Quando viemos para cá com o meu pai, aqui só tinha uma única academia. Ainda não se conhecia bem o judô, consequentemente nós, os filhos, fomos os primeiros alunos do esporte. Daí, alguns de nós passamos a ser professores. Eu mesmo ensino judô desde os anos 80”, relembra Queiroz.
Daí em diante, segundo o treinador, o forte do judô piauiense tem sido a boa aceitação nas escolas. “Todos os bons colégios têm judô. Tivemos muita sorte, pois assim que apresentamos a proposta o Colégio das Irmãs nos abriu as portas, aí foi mais fácil os outros colégios aceitarem também”, ressalva.
Texto e fotos por Jordana Cury