12 de mai. de 2010

Um pouco de estudo: Teoria do Espelho X Newsmaking

Em uma sociedade na qual o bem mais explorado é a informação, analisar as formas de construção da notícia é refletir sobre o que faz o processo de produção ser como é e entender o que de fato se constitui em notícia.

A discussão de mais vigor entre os teóricos do jornalismo diz respeito à existência ou não da subjetividade nas matérias e reportagens que se lê cotidianamente, na maioria das vezes, como relatos de um fato ocorrido, sem juízos de valor.

O entendimento da notícia como sendo um simples reflexo da realidade, um relato fiel dos fatos, é sustentada pela ideia de credibilidade e legitimidade da profissão. Dessa forma, o jornalista é visto como um ser imparcial que apenas redige o que está ao seu redor, sem opinar, sem fazer escolhas, sem construir. Essa é a Teoria do Espelho, na qual o profissional jornalista é um narrador desinteressado, entregue à objetividade, limitado por procedimentos profissionais e dotado de um saber de narração baseado no método científico de observação.

Entretanto, o que se sabe é que existe uma polifonia de vozes refletindo a realidade. Não há formas de transmitir o real sem mediações e, dessa mediação surgem leituras do que se vê, formas de compreensão do que é apurado. Os jornalistas, portanto, estruturam representações do que supõem ser o acontecimento ocorrido, mas, respeitando as rotinas produtivas e os limites do meio de comunicação no qual estão empregados.

Tem-se que, pela Teoria do Newsmaking, o jornalismo é uma construção social de uma suposta realidade, uma vez que a notícia é feita a partir das relações estruturadas na sociedade. Assim, as notícias, ao contrário de serem um reflexo da realidade, são sim construções. São de fato a enunciação do jornalista, o meio pelo qual o profissional constrói o seu discurso, após passar por uma série de operações e pressões sociais e, esse discurso por sua vez, é composto por vários outros, seguindo a lógica de que um discurso nunca é inédito, mas formado por inúmeras vozes, ocultas e mostradas.

Vale ressaltar, no entanto, que o fato de as notícias não serem um relato fiel dos acontecimentos, não significar dizer que há uma conspiração para a manipulação noticiosa. As notícias informam e tem sim referência na realidade, mas ajudando a construí-la e, seu processo de produção é planejado seguindo uma rotina jornalística industrial (o que Pierre Bourdie chama de habitus), repleta de procedimentos próprios e limites organizacionais. Dessa forma, mesmo o jornalista sendo participante da realidade, não existe aí uma autonomia incondicional, uma vez que há uma submissão ao planejamento produtivo.

Em outras palavras, as normas que regem a profissão tornam-se mais importantes que as preferências pessoais no processo de construção noticiosa. A noticiabilidade (baseada nos valores-notícia) é discutida e negociada pelos atores do processo produtivo, seguindo o senso comum das redações. Desse modo, pode-se até falar em manipulação sob o paradigma produtivo, mas não sob o paradigma intencional.