18 de jun. de 2009

DE LUTO

Confesso que pensei bastante antes de escrever sobre a decisão do STF de matar o diploma de jornalista. Eu pensei a noite toda sobre o que é ser jornalista e cheguei a algumas conclusões.

Muito do que é considerado "atividade de jornalista" pode ser exercido por qualquer pessoa que tenha o mínimo de formação, de fato. Mas eu lembro que na minha pré-adolescencia eu já sabia fazer muitas das coisas que os enfermeiros fazem [minha mãe era professora de enfermagem e eu na maioria das vezes sabia sabia responder toda a prova que ela passava aos alunos, isso aos 11 anos]. Fora isso, qualquer pessoa com o mínimo de formação pode fazer boa parte dos que os advogados fazem, do que os dentistas fazem, os administradores, etc...

Quando um médico vai fazer uma cirurgia ele manda que preparem o paciente e o levem para a sala de operação, depois disso, o paciente é anestesiado e então o médico entra na sala de luvas e roupas especiais, não toca em nada para não contaminar o paciente e o corta com um bisturi. Viu? Eu sei fazer boa parte do que um médico faz também. Só não sei deixar o paciente vivo. Mas, o que torna esse médico um profissional é o bem que ele traz ao paciente, o sucesso na cirurgia e, principalmente os anos de estudo que o ensinou o que fazer em situações graves.

O que faz do jornalista um profissional? Com certeza relatar um fato qualquer pessoa pode fazer, mas é a forma como esse fato é relatado que é a chave. Mexemos com as grandes massas, com a opinião pública, lidamos com a verdade e com a mentira, com as diferentes classes sociais, com as diferentes vozes e fontes, somos porta-vozes, fomos, somos e sempre seremos um símbolo de luta. Formamos a grande imprensa. É para isso que estudamos as Teorias da Comunicação, as técnicas redacionais, os efeitos da opinião pública, a ética e a legislação jornalística. Será que qualquer pessoa vai saber fazer o que um verdadeiro jornalista faz?

É por isso que existem os que inventam, os que opinam descaradamente e divulgam como notícia, os que escrevem errado e propagam o erro, fazendo do jornalismo um circo. Isso realmente qualquer um sabe fazer e em Teresina é só o que tem.

Os mais bem pagos "jornalistas" da imprensa teresinense nunca tiveram diploma. São os que têm a profissão de graça. Não dizem que quando é de graça não damos valor? Pois é. Pura verdade. E eu não estou falando dos mais velhos que conseguiram o registro porque aqui não existia o curso. Estes eu não tenho motivo para falar, mas os novos, os que estão aí fazendo as capas dos jornais e as manchetes dos portais sem ao menos ter pisado numa faculdade.

É o circo jornalístico, a comédia estampada em forma de notícia, assinada por verdadeiros palhaços de ternos de bolinhas. O que foi dito no Supremo foi vergonhoso para a classe, uma verdadeira falta de respeito com o nosso cuidado em fazer um trabalho sério e fundamentado. Desvalorizaram a nossa profissão e a colocaram em cheque. Mataram o nosso diploma.

Que tipo de país é esse que não estimula a educação e a formação profissional?

Estou de luto contra essa palhaçada. Vou mandar currículos para o HGV, para o HUT, para o TJ, para o STF. Afinal, a merda que eles fazem todo dia eu também sei fazer.