Poucas vezes na minha vida eu senti tanta vergonha de ter sido considerada católica. Não é que eu não creia em Deus, muito pelo contrário. Tenho fé, sigo meus princípios e pelo menos tento ser razoável e compreensiva com os outros, diferente do que eu percebi na Igreja que eu frequentava.
Esses dias venho acompanhando a história de uma menina de 9 anos que foi estuprada pelo padrasto e acabou grávida de gêmeos. A gravidez foi considerada de alto risco e a família levou o caso a juízo, para que fosse permitido o aborto. A Igreja protestou. Até aqui tudo bem. Mesmo que tenha sido uma forma de querer impor suas doutrinas, protestar é até um ato normal que caracteriza a liberdade de expressão. (Igreja quer impedir interrupção de gravidez de menina de 9 anos )
Mas, o que veio depois é mais que vergonhoso. É deprimente! O juiz deu o parecer favorável ao aborto, já que além de ter sido fruto de um estupro, a gravidez poderia acarretar sequelas permanentes e morte. Foi feito o procedimento. A Igreja, que deveria ser uma instituição benevolente, compreensiva, de apoio aos cristãos, resolveu simplesmente EXCOMUNGAR o médico e os familiares da criança. (Arcebispo excomunga médicos e parentes de menina que fez aborto aos 9 anos ).
A justificativa: "Temos que preservar vidas, a lei dos homens não pode estar acima da lei de Deus", disse o arcebispo dom José Cardoso Sobrinho. Não sei de qual Deus ele fala. Será que o certo seria mesmo levar essa gravidez adiante e trazer um mundo de sofrimento para uma CRIANÇA de 9 anos de idade? Será que seria certo ela pagar com a própria vida por uma coisa que ela não teve culpa alguma. Poxa, estamos falando de uma criança!
Entendo, sem seguir, é claro, que a Igreja condene o aborto em casos de gravidez provocada por sexo consentido. Entendo também, mesmo sem aceitar, que a Igreja condene o sexo antes do casamento e mais ainda, o uso de preservativo. O que também é um absurdo, porque imaginem só, mesmo que seja feito sexo somente após o casamento, a mulher tem que ser uma coelha (parir um hoje e outro daqui a 9 meses e outro dali a 9 meses e assim até não poder mais). Mas daí a querer forçar a morte de uma criança não é preservar a vida.
Quero deixar claro que não sou a favor do aborto, nem contra. Sou a favor do "direito de ir e vir". Ninguém pode julgar as decisões de outra pessoa sem conhecer o motivo que a levou àquilo.
Se eu fosse o médico e os familiares dessa garotinha, eu até agradeceria a excomunhão. Quem precisa de um Deus desse?!
Sinto muito pela minha família que é mais católica do que os padres de Teresina, mas o Meu Deus não é igual a esse.
