9 de mar. de 2009

Algo a declarar sobre o 'Caso Thallyne'

Antes de começar a soltar as minhas idéias quero deixar bem claro que não tenho nada contra a mobilização da polícia, nem contras as atitudes dos políticos, muito menos contra a atenção que a imprensa está dando ao 'Caso Thallyne'. O crime realmente foi chocante e merece destaque, mas o que me deixa indignada, entre outros absurdos, é a atenção que NÃO é despejada às pessoas de renda mais baixa, mesmo que o crime seja até pior.
Já trabalho há mais de ano com jornalismo. Eu sei, é pouco tempo. Mas tive tempo suficiente para ver cenas e crimes mais chocantes, mais brutos. Exemplo disso foi uma das primeiras matérias que eu fiz na área de polícia. Uma menina de 10 anos some da calçada de casa, no bairro Angelim, e um mês depois é encontrada morta e estuprada no meio do mato. A polícia nunca achou o culpado a imprensa divulgou o crime só no dia que o corpo foi encontrado. Os políticos, provavelmente, nem ficaram sabendo e o governador com certeza não ajudou nos custos do funeral.
Mais uma vez: não sou contra toda a mobilização, só acho que deveria ser igual para todo mundo.
A imprensa está fazendo o papel dela, que é o de divulgar e cobrar resultados das autoridades, mesmo que essa divulgação esteja acontecendo de forma imprópria. Porém, entretanto, todavia, nunca vi uma coisa assim, principalmente aqui no Piauí, quando é alguém sem dinheiro. Não dá nem pra imaginar o Wellington Dias ligando pra família da criança do Angelim e prometendo ajudar no velório, ou emprestar o avião do Governo para a transferência do corpo.
Sem dinheiro não há divulgação, não há mobilização, não há ajuda. É justo?! (Nesse momento o Regi diria: Amor, a vida não é justa pra ninguém). Concordo!
Bom, sobre a imprensa, o que me incomoda, tanto quanto as fotos lamentáveis que são divulgadas pra obter acesso (já que as pessoas gostam mesmo é de ver cabeça estourada, como diz a Arlinda - que também é contra essas imagens), são as formas como são colocados os títulos: "Polícia investiga a morta da estudante de Medicina".
É assim em quase tudo que eu li, e confesso que tive que colocar também, porque o nome Medicina choca mais. Será que se eu morresse iriam colocar "Estudante de jornalismo morre...blá blá blá" acho que não daria acesso, então recorreriam para o famoso "jovem": "Jovem de 21 anos morre... blá blá blá". E também acho que o governador não iria emprestar o avião do governo para a minha mãe nem o Secretário de Segurança iria mobilizar a polícia toda. Mas, de uma coisa eu tenho certeza: Eu iria aparece no "Veja mais fotos" de um monte de site, principalmente do 180graus (Não estou criticando não, viu amigos do 180? Só estou dizendo que morro de medo, então por favor, se isso acontecer, escolham fotos em que eu esteja fotogênica, please!). Isso duraria no máximo dois dias.
Bom, o texto não saiu tão assimmmm como eu queria, mas dá pra perceber o que eu sinto quando vejo toda essa preocupação pela estudante de medicina. Indignação pela falta de igualdade. Pelo visto não é só a Justiça que pesa mais sobre os pobres, mas toda a sociedade. É um peso tão grande que se torna impossível não notar.