21 de abr. de 2009

Testemunhas explicam o crime: Wendell atirou em Ricardo e fugiu do local sem prestar socorro

O julgamento teve início às 12h25 com a leitura dos autos do processo. Em seguida, o juiz colocou a testemunhas em sequência e partiu para a oitiva. A primeira delas foi o professor Lucilândio Aguiar, testemunha de acusação, que por se declarar amigo da vítima foi colocado apenas como informante.

Lucilândio foi uma das pessoas que socorreu Ricardo após o tiro. “Quando Wendell chegou ao treiller, Ricardo se aproximou e falou a brincadeira ‘Só porque agora é delegado, não bebe mais com a gente?!’ O acusado então puxou um revólver e atirou, um pouco abaixo do peito esquerdo de Ricardo. Ele [Wendell] não prestou socorro algum e, quando eu sai de dentro do trailer eu só vi o Ricardo com a mão no peito pedindo ajuda. Coloquei ele dentro do meu carro, no banco da frente, e o levei, junto com Gutemberg, para o hospital, onde pediram que eu retirasse a camisa dele. Ao fazer isso, percebi que a bala transfixou o corpo de Ricardo, pois havia sangue na frente e nas costas”.

Segundo o professor, a vítima teria perdido muito sangue durante o deslocamento até o hospital e que dentro do carro ele dizia ‘Eu vou morrer, cara, vou morrer e não fiz nada’.

Ainda de acordo com o professor, a luminosidade e o som do ambiente não atrapalharam o reconhecimento das pessoas do local. “Tinha luminosidade normal, dava pra ver nitidamente qualquer pessoa e o som também não estava alto, então, acredito que Wendell tenha ouvido sim a brincadeira do Ricardo”. No entanto, o informante afirmou que não viu o acusado apontar e disparar a arma para a vítima porque nesse momento estava dentro do treiller, mas ouviu comentários posteriores de como tudo aconteceu. Ele também disse não ter ouvido nenhuma discussão antes do tiro e não saber que motivo teria levado Wendell a cometer o crime. “Uns seis meses antes eu lembro de estar bebendo numa mesa cheia de amigo em que estavam o Wendell e o Ricardo e o clima era amistoso, não percebi nenhuma desavença entre ninguém”.

A segunda testemunha, o comerciante Raimundo Nonato, também foi classificada informante porque se declarou amigo da vítima. Ele diz que não viu o disparo, apenas o ouviu de dentro do treiller e afirmou que depois do acontecido não ouviu nenhum comentário.

Por volta das 14h20 começaram a serem ouvidas as testemunhas de defesa. Uma delas foi Manoel Mendes de Sales, policial que trabalhava com Wendell na época do crime. Ele e o acusado trabalhavam juntos em José de Freitas, município do Piauí, há cerca de três meses. Como se declarou amigo, também foi classificado como informante.

Manoel disse que foi uma surpresa saber do que aconteceu, pois Wendell sempre teve boa índole. Ele explicou que a arma emprestada à delegacia para o trabalho dos policiais estava com Wendell no dia do fato e que era incomum que o delegado não repassasse a arma, um revólver calibre 38, para os outros policiais que permaneceriam no plantão. Ele respondeu à promotoria que não viu o registro numérico da arma e que por isso não pode afirmar que a arma apresentada como a que estava no carro do acusado foi a que saiu da delegacia. “Como só tínhamos essa arma, sempre que os policiais trocavam o plantão, um repassava a arma pro outro, mas nesse dia o Wendell tinha levado a arma para Teresina”.

A promotoria indagou sobre o tipo de treino realizado na academia para preparar delegados e policiais. O informante respondeu: “Na academia de polícia sempre disseram que não se deve apontar a arma para uma pessoa por brincadeira, não se pode colocar o dedo no gatilho sem necessidade de uso”.

"Ele não frententava minha casa nem foi padrinho do meu casamento"

Uma das mais esperadas testemunhas, a viúva de Ricardo, Camila Vanessa Monteiro Moura Seabra, depôs por volta das 15h30, como testemunha da defesa de Wendell. Entretanto, a estudante deixou bem claro que não está defendendo ninguém, que foi apenas arrolada como testemunha.

Camila insistiu no fato de que nada tinha a dizer sobre o acontecido, mas explicou que a afirmação que Wendell teria feito em depoimentos anteriores, de que seria padrinho do seu casamento com Ricardo era mentira. “Ele disse que foi padrinho do nosso casamento, isso é mentira. Casei na Igreja do quartel da Polícia Militar e a recepção foi no clube AABB. Wendell estava lá, mas estava como um convidado qualquer, não como padrinho”.

A promotoria indagou como a viúva soube do crime, ela respondeu: “Não estava na cena do crime, não vi nada, não sei de nada. Soube que o meu marido tava baleado porque minha comadre, madrinha da minha filha, me contou que ele estava no hospital. Mas quando fui para lá ele já tinha chegado a óbito”. Ela afirmou ainda não conhecer Wendell. “Ele nunca foi lá em casa, nunca o vi saindo com o meu marido. Não posso dizer que eles não se encontravam fora, mas sair juntos, nunca”.

Após dizer isso, a testemunha pediu para ser liberada porque deveria cuidar dos filhos pequenos. O juiz a liberou e deu um recesso de 20 minutos para almoço.